A competição e a predação são processos ecológicos importantes, desenvolvidos ao longo de anos de história evolutiva, tanto entre espécies animais quanto vegetais. Esses processos ajudam a trazer equilíbrio aos ecossistemas, uma vez que ambos tem o potencial de regular e “controlar” populações de organismos. Entretanto, qualquer evento que venha a gerar desequilíbrio nesses processos, como por exemplo o aumento da predação e a diminuição da competição, pode consequentemente provocar danos irreversíveis ao ecossistema, inclusive com a perda de espécies por extinção local.
Atualmente umas das maiores preocupações de grupos de pesquisa que trabalham com ecologia em ambientes marinhos é a questão da bioinvasão. Com a globalização, aumento do tráfego marítimo e aumento da capacidade de transporte dos navios transoceânicos, a dispersão de espécies nativas marinhas, via água de lastro, é cada vez maior e mais freqüente. Uma vez fora de seu habitat natural, essa espécie introduzida passa a ser invasora, e uma vez conseguindo se estabelecer no novo ambiente, passa a competir com espécies existentes naquele ambiente, chamadas de nativas, e muitas vezes a predar espécies daquele ambiente.
Esse evento muitas vezes pode provocar o aumento da predação sobre espécies, caso a espécie invasora passe a se alimentar de espécies que já servem de alimento para as outras espécies pré-existentes naquele ambiente, podendo assim diminuir a população de presas. Essa espécie invasora também pode passar a competir com as espécies nativas, e caso essa competição influencie na predação através do tempo de interação comportamental entre as espécies competidoras, pode haver uma diminuição na predação, ocorrendo o aumento populacional das espécies de presas. Todas essas alterações provocarão consequentemente o que chamamos de efeito em cascata ou efeito dominó, quando o aumento ou a diminuição da população de uma espécie provoca consequentemente o aumento ou a diminuição da população de outras espécies. A dimensão do dano provocado por esses eventos ao ecossistema depende do grau de interação entre as espécies que sofreram o impacto, e essa ainda é uma questão pouco estudada.
O objetivo desse projeto foi investigar, avaliar e examinar os impactos da bioinvasão sobre as comunidades de espécies nativas. Como modelo de estudo adotou-se o siri invasor Charybdis hellerii. Essa espécie é originária do Indo-Pacífico. O primeiro registro de sua ocorrência no Oceano Atlântico ocorreu em Cuba em 1987, e no Brasil em 1996. Desde então, diversos estudos revelam uma disseminação dessa espécie invasora pela costa brasileira e nenhum avalia os impactos dessa introdução
Desta forma, o projeto contribuiu para o aumento do conhecimento sobre os impactos gerados pela bioinvasão, fornecendo subsídios para o desenvolvimento de novas pesquisas científicas e proporcionando embasamento científico para que sejam realizadas ações por parte de órgãos gestores responsáveis, visando à conservação, manejo e uso sustentável de nossas zonas costeiras.
Imagens
Equipe
- Diogo Nunes de Oliveira (Instituto de Biociência da UNESP de Botucatu/SP)
- Ronaldo Adriano Christofoletti (Instituto do Mar – UNIFESP/Santos)
- Rodrigo Egydio Barreto (Departamento de Fisiologia – IB – UNESP/Botucatu)
- Camila Gastaldi Blanco (Departamento de Zoologia – IB – UNESP/Botucatu)
- Fernando José Zara (Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária – UNESP/Jaboticabal)