O Projeto Berbigão teve início em 2002. De lá para cá, procurou-se compreender vários aspectos da biologia do molusco bivalve Tivela mactroides, bem como aqueles relacionados à dinâmica de sua exploração pelo homem. O berbigão, também conhecido como vôngole ou marisco-da-areia, é muito abundante nas praias que compõem a Enseada de Caraguatatuba. Esse animal é tradicionalmente explorado como alimento pela população local, os caiçaras, e também pelos turistas que frequentam o local.
Por esse motivo, pesquisadores associados ao Instituto Costa Brasilis realizaram o monitoramento deste molusco nas praias para avaliar variações na densidade populacional e outros aspectos associados à dinâmica da população, como taxas de crescimento, mortalidade, recrutamento e ciclo reprodutivo da espécie na região.
Também foram avaliados o consumo do berbigão pela população e o perfil sócio-econômico de quem o consome. Estimou-se que 30T do produto são retiradas anualmente na região e que esta atividade é desempenhada por cerca de 500 famílias. No entanto, a exploração é muito dinâmica, pois metade das famílias que exploram esse recurso é composta por turistas, os quais não possuem o hábito de retirar o berbigão regularmente.
Os pesquisadores também evidenciaram, através de análises microbiológicas da carne do berbigão, a contaminação por diversos organismos patogênicos. Assim, o consumo do berbigão só é indicado após preparo com fervura para eliminação das bactérias, que podem causar, além de outras doenças, fortes diarréias.
Complementarmente, foram também avaliadas as principais causas de mortalidade natural dos indivíduos da população, como a predação. Verificou-se que alguns organismos bentônicos utilizam o berbigão como recurso alimentar, como a estrela-do-mar (Astropecten marginatus), o pampo (Trachinotus carolineus) e o siri-azul (Callinectes danae), os quais podem consumir o berbigão em grande quantidade. A ocorrência de manchas de indivíduos mortos na praia, evidenciando eventos de mortalidade em massa, mostrou ser um fenômeno dependente da densidade de berbigões na praia e, portanto intrínseco da espécie.
Todas essas informações subsidiaram um plano de manejo voltado para o uso sustentável do berbigão na Enseada de Caraguatatuba. Esse plano foi pensado de forma a valorizar a atividade extrativista, que faz parte da cultura e história das comunidades tradicionais do litoral norte paulista, além de garantir a perpetuação do recurso na região, através da preservação da espécie.
Para maiores informações e acesso às publicações resultantes, acesse o site do Projeto Berbigão.
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